XI CONGRESSO DE HISTÓRIA ECONÔMICA

Economia de guerra: geopolítica em tempos de pandemia e crise sistêmica.

O que é, de fato, uma “economia de guerra”? Podemos utilizar a expressão “economia de guerra” para descrever a conjuntura econômica apresentada pela pandemia de Covid-19? Aqui, docentes, discentes e demais pesquisadores interessados nesse tema são convidados a debater. Afinal, a utilização do conceito de “economia de guerra” flexibilizou-se entre os atores políticos, sobretudo, para enfatizar um denominador comum entre as situações de guerra e da pandemia de 2020: o sacrifício. Provavelmente, essa analogia advenha do sofrimento e do trauma coletivo vivenciados na II Guerra Mundial (1939-1945).

Enquanto um conceito, o termo “economia de guerra” é utilizado para designar situações extremas vivenciadas por algumas nações durante os períodos de guerra total da contemporaneidade, como o exemplo referido da II Guerra Mundial. No entanto, como modelo explicativo, “economia de guerra” designa a centralidade da indústria bélica e dos conflitos militares para a formação do mundo contemporâneo e de que forma tais conflitos definiram a própria natureza do capitalismo que viemos a conhecer durante o século XX. Para nos restringirmos apenas às duas maiores economias atuais, não é difícil perceber de que maneira a indústria militar ocupou o centro da economia dos EUA e de que maneira a China atual brotou de duas guerras civis de extrema intensividade. A reflexão sobre a centralidade da guerra do século XX é importante para nos fazer refletir sobre como a comparação simplista com o passado pode ser enganosa e precipitada. Sendo assim, a fim de problematizar essa questão, também fazem parte do nosso escopo os debates sobre “crise sistêmica” e o papel das epidemias na História.

Dentro do tema “economia de guerra, geopolítica em tempos de pandemia e crise sistêmica”, pretendemos discutir diferentes questões, tais como:

a) a necessidade estrutural de guerras, no centro do sistema, para o capitalismo monopolista dos EUA, bem como o impacto desses investimentos na inovação tecnológica exponencial no mundo, tributário desse “keynesianismo militar”;

b) a crônica crise sistêmica, desde o fim do Bretton-Woods, com as cada vez mais intensas disputas hegemônicas e anti-hegemônicas entre EUA e China;

c) o redesenho do “Sistema Mundo Capitalista”, com a ascensão produtiva chinesa, fenômeno contemporâneo à chamada “Quarta Revolução Industrial” no centro do sistema.

Tais questões nos convidam a repensar esse redesenho sistêmico do capitalismo, vindo desde os anos 1970, frente ao atual momento de pandemia, que desnudou as políticas econômicas convencionais implementadas desde a falência de Bretton-Woods, o que nos leva a teorizar e discutir a geopolítica da produção neste contexto adverso. Ainda que a pandemia tenha quase paralisado a produção industrial e de serviços nas economias centrais e emergentes, ela tem instaurado uma espécie de "keynesianismo viral", com possível reconversão industrial em setores estratégicos, dando, ainda que na paralisia, um cenário de economia de guerra na forma.

Aqui, então, emerge o nosso papel como historiadores: evitando a futurologia, cabe a nós, debruçarmo-nos sobre o passado, contribuindo para o entendimento das encruzilhadas que se apresentam no tempo presente. Nesse sentido, o XI Congresso de História Econômica da Universidade de São Paulo surge para cumprir dois objetivos.

O primeiro deles é apresentar o cotidiano do nosso trabalho científico. No cerne do XI Congresso, teremos a oportunidade de trazer para o espaço público um grande número de comunicações sobre o trabalho realizado pelo nosso corpo discente: os impasses da NEP durante os primeiros anos da União Soviética, os caminhos da agroindústria canavieira em São Paulo durante o século XX, o trabalho das quitandeiras na economia urbana e rural de Minas Gerais, os desafios sofridos pela política econômica do Chile de Salvador Allende, as disputas monetárias durante a Primeira República e o mercado de trigo do século XIV – são apenas exemplos de uma variedade de temas e problemas investigados durante os últimos anos no Programa de Pós-graduação em História Econômica da USP, em um trabalho que se acumula paulatinamente, trazendo à tona questões que contribuem e enriquecem o conhecimento científico.

Nosso segundo objetivo é dar voz a diversas formas de pensamento que proponham discutir conceitos e modelos teóricos capazes de descrever e analisar os diferentes processos econômicos que fizeram a nossa história. Logo, são bem-vindos trabalhos com temas diversos, circunscritos na área de conhecimento da História Econômica, assim como trabalhos interdisciplinares que levem em conta as questões da esfera econômica.

Para além dessas questões, são bem-vindos trabalhos que versem sobre diferentes temas, como o próprio conceito de “economia de guerra”, disputas hegemônicas, complexo industrial militar, guerras “frias e quentes”, políticas públicas emergenciais, políticas fiscais, concentração de renda, trabalho informal, desigualdade social, acesso e direito à saúde, acesso a saneamento básico e alimentação de qualidade, pobreza, questões de raça e de gênero, etc.

A Comissão Organizadora do XI Congresso do Programa de Pós-Graduação em História Econômica da USP conta com a colaboração e a presença de todos os interessados em contribuir para a criação de um espaço de debate nesse campo de conhecimento.